Sismoestratigrafia do limite sul da Bacia de Santos e suas implicações na evolução do Atlântico Sul primordial

Autores

  • Tom Araujo Borges Petrobras
  • Luiz Antonio Pierantonni Gambôa Universidade Federal Fluminense 

Palavras-chave:

Sismoestratigrafia, Atlântico Sul

Resumo

A configuração das bacias sedimentares do Oceano Atlântico Sul durante o Aptiano sugere a existência de uma barreira contínua ao sul da Bacia de Santos. Esta barreira condicionou o estabelecimento de condições restritas à circulação marinha, culminando na deposição de espessuras de sal da ordem de 2.000m a 3.000m. Esta bacia salífera alcançou cerca de 900km de extensão, compreendendo a região que, na costa brasileira, engloba desde a Bacia de Santos até a Bacia de Sergipe-Alagoas. A bacia salífera foi criada como resposta às condições geológicas muito peculiares em que a morfologia e a tectônica associada à separação continental tiveram papel preponderante. A barreira, que poderia estar no nível do mar ou mesmo acima deste durante o desenvolvimento dos primeiros estágios de abertura do rifte, é expressa atualmente pela Cadeia São Paulo. Este alto atuou como uma barreira efetiva à livre circulação marinha, já estabelecida francamente mais ao sul na Bacia de Pelotas, cujo registro de evaporitos é ausente. A análise de sismossequências das linhas regionais 999-3235, 999-3237, 999-3239 (Fugro) e 500-0059 (Leplac) permitiu individualizar oito unidades sísmicas regionais que compõem a estratigrafia do Platô de São Paulo. As idades e correlações litológicas foram obtidas com a calibração do Poço DSDP 356, ao dado sísmico disponível. A interpretação detalhada da zona limítrofe sul da Bacia de Santos, dada pelo contato da cunha sedimentar com a Dorsal de São Paulo, permitiu tecer considerações a respeito da relação tectônica/sedimentação entre a Dorsal de São Paulo e as unidades sísmicas identificadas. As unidades sísmicas mapeadas, calibradas pelas idades do Poço DSD P356, representam eventos controlados pela atuação tectônica da Cadeia São Paulo e sua relação com a variação do nível do mar. Os primeiros estágios de abertura da porção sul do Oceano Atlântico Sul deram-se de maneira dinâmica, catastrófica, deixando em seu registro um enorme hiato observado na sedimentação do platô na porção oeste adjacente à barreira. O fato é corroborado pela observação de eventos de alta energia, marcados por progradações alinhadas na direção SW-NE, depositadas durante a invasão marinha. Uma depressão observada a oeste da Dorsal de São Paulo, na região do embasamento, pode ter funcionado como portal para o ingresso das águas marinhas do Atlântico Sul primordial. Flutuações climáticas e do nível do mar acarretariam, posteriormente, a deposição de uma espessa camada de evaporitos limitados ao sul pela Dorsal de São Paulo. A interação da sedimentação com a oscilação do nível do mar e a ação da barreira teve papel fundamental na arquitetura dos reservatórios e do selo das acumulações do pré-sal. A barreira parece ter impedido a livre circulação marinha até pelo menos o Neoalbiano. A partir de então, se sucede o afogamento contínuo do sistema até a atualidade. O estudo regional apontou a existência de grabens do embasamento preenchidos por sedimentos do Albiano, interpretados como documentos do processo final de ruptura crustal entre América do Sul e África. 

Referências

ABELHA, M. Brazilian carbonates oil fields: a perspective. In: BRAZILIAN PETROLEUM CONFERENCE, 2015, Rio de Janeiro. Apresentação... Rio de Janeiro: ANP, 2015.

ARAI, M. Paleogeografia do Atlântico Sul no Aptiano: um novo modelo a partir de dados micro paleontológicos recentes. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 331-351, maio/nov. 2009.

BASSETO, M. Análise morfo-estrutural do domínio oceânico da porção sul-sudeste da margem continental brasileira. 1997. 134 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Geologia da Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 1997.

BORGES, T. Evolução tectônica da Dorsal de São Paulo e influência na sedimentação adjacente da Bacia de Santos (RJ). 2013. 112 f. Dissertação (Mestrado em Geologia e Geofísica Marinha) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2013.

BORGES, T.; GAMBÔA, L. A. P.; DE PAULA, L. Seismic stratigraphy analysis of south Santos Basin and it implications on the early South Atlantic evolution. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF THE BRAZILIAN GEOPHYSICAL SOCIETY, 13., 2013, Rio de Janeiro. Anais… Washington, D.C.: AGU, 2013. p. 627-634.

CANDE, S. C.; RABINOWITZ, P. Magnetic anomalies of the continental margin of Brazil. Tulsa: AAPG, 1979.

CARMINATTI, M.; WOLFF, B.; GAMBOA, L. New Exploratory Frontiers in Brazil. In: WORLD PETROLEUM CONGRESS, 19., 2008, Madrid. Anais... London: WPC, 2008. p. 1-11.

CHANG, H. K.; KOWSMANN, R. O.; FIGUEIREDO, A. M. F.; BENDER, A. A. Tectonics and stratigraphy of the East Brazil Rift system: an overview. Tecto-nophysics, Amsterdam, v. 213, n. 1-2, p. 97-138, Oct. 1992.

COBBOLD, P. R.; MEISLING, K. E.; MOUNT, V. S. Reactivation of an obliquely rifted margin, Campos and Santos southeastern Brazil. AAPG Bulletin, Tulsa, v. 85, n. 11, p. 1903-1924, 2001.

DEMERCIAN, L. S.; SZATMARI, P.; COBBOLD, P. R. Style and pattern of salt diapirs due to thinskinned gravitational gliding, Campos and Santos basins, offshore Brazil. Tectonophysics, Amsterdam, v. 228, n. 3-4, p. 393-433, Dec. 1993.

DIAS, L. J. Análise sedimentológica e estratigráfica do andar aptiano em parte da margem leste do brasil e no platô das malvinas - considerações sobre as primeiras incursões e ingressões marinhas do oceano atlântico sul meridional. 1998. 209 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.

DIAS, L. J. Tectônica, estratigrafia e sedimentação no Andar Aptiano. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 7-25, nov. 2004/maio 2005.

GAMBÔA, L. A. P.; BUFFLER, R.; BARKER, P. F. Seismic stratigraphy of the Vema Channel and southern portion of the Brazil Basin and oceanography implications. EOS, Washignton, D.C., v. 62, n. 45, p. 902, 1981.

GAMBÔA,L. A. P.; KUMAR, N. Synthesis of geological and geophysical data in a 1º square area around Site 356, Leg 39, DSDP. Initial Reports [of the] Deep Sea Drilling Project, Washington, D. C., v. 39, p. 947-954, Aug. 1977.

GAMBÔA, L. A. P.; RABINOWITZ, P. D. The Rio Grande Fracture Zone in the Western South Atlantic and its tectonic implications. Earth and Planetary Science Letters, Amsterdam, v. 52, n. 2, p. 410-418, Feb. 1981.

GOMES, P. O.; PARRY, J.; MARTINS, W. The outer high of the Santos Basin, southern São Paulo Plateau, Brazil: tectonic relation to volcanic events and some comments on hydrocarbon potential. Search and Discovery, Stavanger, n. 90022, p. 1-5, Sept. 2002.

GOMES, P. O. Projeto LEPLAC: Interpretaçăo Integrada dos Dados Geofísicos do Prospecto LEPLAC-IV - Margem Continental Sul Brasileira. In: INTER-NATIONAL CONGRESS OF THE BRAZILIAN GEO-PHYSICAL SOCIETY, 3., 1993, Rio de Janeiro, RJ. Extended abstracts… Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Geofísica, 1993, p. 1275-1280.

GUIMARÃES, P. P. D.; BOA HORA, M. P. P.; KO-WSMANN, R. O.; COSTA, M. P. A. Modelagem gravimétrica na porção sul do Platô de São Paulo e suas implicações geológicas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 32.,1982, Salvador. Anais... Salvador: Sociedade Brasileira de Geologia, 1982. p. 1570-1575.

JANASI, V. A.; FREITAS, V. A.; HEAMAN, L. H. The onset of flood basalt volcanism, northern Parana Basin, Brazil: a precise U-Pbbaddeleyite/zircon age for a Chapecó-type dacite. Earth and Planetary Science Letters, Amsterdam, v. 302, n.1, p.147-153, Feb. 2011.

KUMAR, N.; GAMBOA, L. A. P. Evolution of the Sao Paulo Plateu (Southeastern Brazilian Margin) and implications for the early history of the South Atlantic. Geological Society of America Bulle-tin, New York, v. 90, n. 3, p. 281-293, Mar. 1979.

KUMAR, N.; GAMBOA, L. A. P.; SCHEIBER, B. C.; MASCLE, J. Geologic History and Origin of Sao Paulo Plateau (Southeastern Brazilian Margin), comparison with the Angolan Margin, and early evolution of the Northern South Atlantic. Initial Reports of the Deep Sea Drilling, Washington, D.C., v. 39, p. 927-945, Aug. 1977.

LARSON, R. L.; LADD, J. W. Evidence for the opening of the South Atlantic in the Early Cretaceous. Nature, London, v. 246, n. 5430, p. 209-212, Nov. 1973.

LEYDEN, R.; LUDWIG,W. J.; EWING, M. Structure of continental margin of Punta del Este, Uruguay, and Rio de Janeiro, Brazil. American Association of Petroleum Geologists Bulletin, v. 55, n. 12, p. 2161-2173, dez. 1971.

LEYDEN, R., DAMUTH, J. E., ONGLEY. L. K., KOS-TECKI. J., STENVENICK, W. V. Salt diapirs on São Paulo Plateu, southeastern Brazilian continental margin. AAPG Bulletin, Tulsa, v. 62, n. 4, p. 657-666, 1978.

LEYDEN, R.; NUNES, J.R. Diapiric structures offshore southern Brazil. In: Congresso Brasileiro de Geologia., 26., 1972, Belém. Anais… Belém: Sociedade Brasileira de Geologia, 1972. p. 45-50.

MITCHUM JR., R. M.; VAIL, P. R.; THOMPSON III, S. Seismic stratigraphyand global changes of sea level, part 2: overview. In: PAYTON, C. E. (Ed.). Seismic Stratigaphy: applications to hydrocarbon explo-ration. Tulsa: American Association of Petroleum Geologists: 1977. p. 99-116.

MOHRIAK, W. U. South Atlantic Ocean Salt Tectonics, Volcanic Centers, Fracture Zones and their relationship with the origin and evolution of the South Atlantic Ocean: geophysical evidence in the Brazilian and West African margins. In: International Congress of The Brazilian Geophysical Society, 7., 2001, Salvador. Extended abstracts… São Paulo: Sociedade Brasileira de Geofísica, 2001, p. 1.

MOREIRA, J. L. P.; MADEIRA, C. V.; GIL, J. A.; MACHADO, M. A. P. Bacia de Santos: Carta Estratigráfica. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 531-549, nov. 2007.

PAYTON, C. E. (Ed.). Seismic stratigraphy: appli-cations to hydrocarbon exploration.Tulsa : AAPG ,1977. 516 p. (AAPG Memoir, 26).

REYMENT, R. A.; TAIT E. A. Biostratigraphical dating of the early history of the South Atlantic Ocean. Royal Society of London Philosophical Transac-tions, London, v. 264, n. 858, p. 55-95, May 1972.

SEVERIANO RIBEIRO, H. J. P. Sismo-estratigrafia. In: SEVERIANO RIBEIRO, H. J. P. (Ed.). Estratigrafia de sequências: fundamentos e aplicações. São Leopoldo: Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2001. p. 73-98.

SCOTCHMAN, I. C.; GILCHRIST, G.; KUSZNIR, N. J.; ROBERTS, A.M.; FLECTCHER, R. 2010. The breakup of the South Atlantic Ocean: formation of failed spreading axes and blocks of thinned continental crust in the Santos Basin, Brazil and its consequences for petroleum system development. In: PETROLEUM GEOLOGY CONFERENCE, 7., 2009, London. Proceedings... London: Geological Society of London, 2009. p. 855-866. (Petroleum Geology Conference Series, 7).

TERRA S. J. G.; BAHNIUK, J.; FRANCO M. P. Ocorrência de rudistas em amostras de testemunho do Albiano Inferior da Bacia de Campos. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 313-320,maio/nov. 2010.

VAIL, P. R; MITCHUM JR, M. R. Seismic stratigraphy and global changes of sea level, part 1: Overview. In: PAYTON, C. E. (Ed.). Seismic Stratigaphy: applications to hydrocarbon exploration. AAPG Memoir, Tulsa, n. 26, p. 51-52, 1977.

ZALÁN, P. V.; WOLF, S.; CONCEIÇÃO, J. C. J.; MAR-QUES, A.; ASTOLFI, M. A. M.; VIEIRA, I. S.; APPI, V. T.; ZANOTTO, O. A. Bacia do Paraná. In: RAJA GABAGLIA, G. P.; MILANI E. J. (Ed.). Origem e evolução de bacias sedimentares. Rio de Janeiro: Petrobras/SEREC/CEM-SUD, 1990. p. 135-168.

Downloads

Publicado

2015-12-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

BORGES , Tom Araujo; GAMBÔA, Luiz Antonio Pierantonni. Sismoestratigrafia do limite sul da Bacia de Santos e suas implicações na evolução do Atlântico Sul primordial . Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1-2, 2015. Disponível em: https://bgp.petrobras.com.br/bgp/article/view/7. Acesso em: 19 set. 2024.