A utilização de electrofáceis na ampliação do conhecimento da estratigrafia do Jurássico Inferior e Médio na Bacia Lusitânica
Palavras-chave:
Diagrafias, Raios Gama, Electrofácies, “Grupo Brenha”, Jurássico Inferior e Médio, Bacia LusitânicaResumo
O presente trabalho consiste na interpretação litostratigráfica, a partir do estudo de diagrafias (perfis elétricos), de quatro sondagens localizadas no sector central e setentrional da Bacia Lusitânica, que atravessam materiais de idade Jurássico Inferior e Médio. Através da análise do perfil de raios gama, foram definidas doze electrofácies, que permitiram reconhecer, em subsuperfície, as características litológicas das diferentes unidades litostratigráficas que integram o “Grupo Brenha”. A caracterização das electrofácies, definidas a partir da análise do padrão de intensidade dos perfis de raios gama, em articulação com dados relativos aos testemunhos da sondagem, permitiu correlacionálas com as formações de Vale das Fontes, de Lemede, de S. Gião, de Póvoa da Lomba, de Degracias, do Cabo Carvoeiro, de Fórnea, de Barranco do Zambujal e de Chão das Pias, estabelecidas para o sector setentrional e central da Bacia, e compreender a expressão bacinal das electrofácies do Jurássico Inferior e Médio da Bacia Lusitânica.Foram igualmente definidas, para as quatro sondagens estudadas, cinco associações de electrofácies, que permitiram reconhecer duas electrosequências de 2ª ordem, que se correlacionam com as sequências de 2ª ordem definidas para as unidades estratigráficas que integram o “Grupo Brenha”. As correlações realizadas – entre electrofácies e unidades estratigráficas e entre electrosequências,definidas a partir de associações de electrofácies, com sequências sedimentares de 2ª ordem , permitem verificar que as sondagens em posições mais distais (NW) apresentam valores de raios gama elevados, indicadores de condições de sedimentação de domínio margoso, contrastando com as sondagens localizadas em posições mais proximais (SE), que apresentam valores de raios gama baixos, refletindo uma sedimentação com carácter mais calcário, o que confirma a existência da rampa homoclinal de pendor para NW, que caracteriza a geometria deposicional da Bacia Lusitânica durante o Jurássico Inferior e Médio.
O presente trabalho põe em evidência o valor das diagrafias na interpretação de ambientes deposicionais e na análise vertical de fácies, ao permitirem a correlação entre dados de afloramento e dados de subsuperfície, recorrendo à definição de padrões de electrofácies, tal como se efetuou para as sondagens estudadas do “Grupo Brenha”. Os dados obtidos, se forem utilizados na análise de diagrafias de outras sondagens, permitirão correlacionar, de forma mais fiável e completa, as electrofácies já reconhecidas, e contribuir para alargar os estudos de subsuperfície da Bacia Lusitânica, designadamente para intervalos estratigráficos cujo conhecimento é relevante no âmbito da pesquisa de hidrocarbonetos.
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