A utilização de electrofáceis na ampliação do conhecimento da estratigrafia do Jurássico Inferior e Médio na Bacia Lusitânica

Autores

  • Ana Marisa Gomes de Almeida Santos Calhôa Petrobras International Braspetro B.V
  • Almério Barros França
  • Rui Paulo Bento Pena dos Reis Universidade de Coimbra

Palavras-chave:

Diagrafias, Raios Gama, Electrofácies, “Grupo Brenha”, Jurássico Inferior e Médio, Bacia Lusitânica

Resumo

O presente trabalho consiste na interpretação litos­tratigráfica, a partir do estudo de diagrafias (perfis elétricos), de quatro sondagens localizadas no sector central e setentrional da Bacia Lusitânica, que atravessam materiais de idade Jurássico Inferior e Médio. Através da análise do perfil de raios gama, foram definidas doze electrofácies, que permitiram reco­nhecer, em sub­superfície, as características litológicas das diferentes unidades litostratigráficas que integram  o “Grupo Brenha”. A caracterização das electrofácies, definidas a partir da análise do padrão de intensi­dade dos perfis de raios gama, em articulação com dados relativos aos testemunhos da sondagem, per­mitiu correlacioná­las com as formações de Vale das Fontes, de Lemede, de S. Gião, de Póvoa da Lomba, de Degracias, do Cabo Carvoeiro, de Fórnea, de Barranco do Zambujal e de Chão das Pias, estabele­cidas para o sector setentrional e central da Bacia, e compreender a expressão bacinal das electrofácies do Jurássico Inferior e Médio da Bacia Lusitânica.Foram igualmente definidas, para as quatro son­dagens estudadas, cinco associações de electrofácies, que permitiram reconhecer duas electro­sequências de 2ª ordem, que se correlacionam com as sequências de 2ª ordem definidas para as unidades estratigráficas que integram o “Grupo Brenha”. As correlações realizadas – entre electrofácies e unidades estratigráficas e entre electro­sequências,definidas a partir de associações de electrofácies, com sequências sedimentares de 2ª ordem ­, per­mitem verificar que as sondagens em posições mais distais (NW) apresentam valores de raios gama ele­vados, indicadores de condições de sedimentação de domínio margoso, contrastando com as sondagens localizadas em posições mais proximais (SE), que apresentam valores de raios gama baixos, refletindo uma sedimentação com carácter mais calcário, o que confirma a existência da rampa homoclinal de pendor para NW, que caracteriza a geometria deposicional da Bacia Lusitânica durante o Jurássico Inferior e Médio.
O presente trabalho põe em evidência o valor das diagrafias na interpretação de ambientes depo­sicionais e na análise vertical de fácies, ao permi­tirem a correlação entre dados de afloramento e dados de sub­superfície, recorrendo à definição de padrões de electrofácies, tal como se efetuou para as sondagens estudadas do “Grupo Brenha”. Os dados obtidos, se forem utilizados na análise de diagrafias de outras sondagens, permitirão corre­lacionar, de forma mais fiável e completa, as elec­trofácies já reconhecidas, e contribuir para alargar os estudos de sub­superfície da Bacia Lusitânica, designadamente para intervalos estratigráficos cujo conhecimento é relevante no âmbito da pesquisa de hidrocarbonetos.

 

Referências

AZERÊDO, A. C. Jurássico Médio do Maciço Calcário Estremanho (Bacia Lusitânica): análise de fácies, micropaleontologia, paleogeografia. 1993. 366 f. Tese (Doutorado) – Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Portugal, 1993.

AZERÊDO, A. C. Formalização da litostratigrafia do Jurássico Inferior e Médio do Maciço Calcário Estremenho, Bacia Lusitânica. Comunicações Geológicas, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Lisboa, v. 94, p. 29­51, 2007.

AZERÊDO, A. C.; DUARTE, L. V.; HENRIQUES, M. H.; MANUPPELLA, G. Da dinâmica continental no Triásico aos mares do Jurássico Inferior e Médio. Cadernos de Geologia de Portugal, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa, 2003. 43 p.

BARBOSA, B.; SOARES, A. F.; ROCHA, R. B.; MANUPPELLA, G.; HENRIQUES, M. H. Carta Geológica de Portugal. Notícia Explicativa da Folha 19­A, (Cantanhede). Escala 1:50.000. 2 ed. Lisboa: Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação,1988. 41p.

CALHÔA, A. M.; HENRIQUES, M. H.; PENA REIS, R. Electrofácies da passagem Jurássico Inferior-­Médio da Bacia Lusitânica (Portugal): estudo preliminar, conferência interna. As Geociências no Desenvolvi­mento das Comunidades Lusófonas, Universidade de Coimbra. Memórias e Notícias, Coimbra, v.3, N.S., p. 63­69, 2008.

DINIS, J. L.; REY, J.; CUNHA, P. P.; CALLAPEZ, P.; PENA DOS REIS, R. Stratigraphy and allogenic controls of the western Portugal Cretaceus: an updated synthesis. Cretaceos Research, v. 29, n. 5­6, p.772­780, 2008.

DUARTE, L. V. O Toarciano da Bacia Lusitaniana. Estratigrafia e Evolução Sedimentogenética. 1995. 349 f. 14 estampas. Tese (Doutorado) – Universidade de Coimbra, Centro de Geociências, Departamento de Ciências da Terra, Portugal, 1995.

DUARTE, L. V. Facies analysis and sequential evolu­tion of the Toarcian: Lower Aalenian series in the Lusitanian Basin (Portugal). Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa, v. 83, p. 65­94, 1997.

DUARTE, L. V. Stratigraphic setting, facies variation and sequence stratigraphy of the lower Jurassic carbonate series. In: DUARTE, L. V.; HENRIQUES, M. H. (Eds). Carboniferous and Jurassic Carbonate Platforms of Iberia. IAS MEETING OF SEDIMENTOLOGY, 23., Coimbra, 2004. p. 48­51.

DUARTE, L. V. Lithostratigraphy, sequence strati­graphy and depositional setting of the Pliensbachian and Toarcian series in the Lusitanian Basin, Portugal. Ciências da Terra (UNL), n.16, p.17­23, 2007.

DUARTE, L. V.; SOARES, A. F. Litostratigrafia das séries margo­calcárias do Jurássico inferior da Bacia Lusitânica (Portugal). Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa, t. 89, p.135­154, 2002.

HENRIQUES, M. H. Aalenian of the Zambujal de Alcaria section (Central Lusitanian Basin, Portugal). In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON THE JURASSIC SYSTEM, 5., Vancouver, 1998. Advances in Jurassic research, GeoResearch Forum, Transtec Publica­tions, Zurich, v. 6, p. 85­94, 2000.

KULLBERG, J. C. Evolução Tectónica Mesozóica da Bacia Lusitaniana. 2000. 280 f. Tese (Doutorado) – Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Portugal, 2000.

KULLBERG, J. C.; ROCHA; R. B.; SOARES, A. F.; REY, J.; TERRINHA, P.; CALLAPEZ, P.; MARTINS, L. A Bacia Lusitaniana: estratigrafia, paleogeografia e tectónica. In: DIAS, R.; ARAÚJO, A.; TERRINHA, P.; KULLBERG, J. C. (Ed.). Geologia de Portugal no contexto da Ibéria. Portugal: Universidade Évora, 2006. p. 317­368.

MOUTERDE,R;ROCHA,R.B;RUGET,C;TINTANT,H. Faciès, biostratigraphie et paléogéographie du Jurassique portugais. Ciências da Terra (UNL), n. 5, p. 29­52, 1979.

NICHOLS, G. Sedimentology and Stratigraphy. Oxford: Blackwell Science, 2001, 355 p.

OLIVEIRA, L. C. V.; RODRIGUES, R.; DUARTE, L. V.; LEMOS, V. B. Avaliação do potencial gerador de pe­tróleo e interpretação paleoambiental com base em biomarcadores e isótopos estáveis de carbono da seção Pliensbaquiano­Toarciano inferior (Jurássico Inferior) da região de peniche (Bacia Lusitânica, Portugal). Boletim de Geociências da Petrobras, v. 14, n. 2, p. 207­234, maio/ nov. 2006.

PALAIN, C. Une série détritique terrigène: Les "gres de Silves": trias et lias infériur du Portugal. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal, n. 25, 1976, 377p. (Memórias dos Serviços Geológicos de Portugal).

PENA DOS REIS, R. P. B. Morfologias de talude instável em contexto de rifting. Exemplo do Jurássico superior da Bacia Lusitânica. Tema C: Bacias Sedimentares e Geologia Estrutural. In: CONGRESSO NACIONAL DE GEOLOGIA, 6., 2003. Anais... Portugal, 2003. p. 65­68.

PENA DOS REIS, R.; CORROCHANO, A., BERNARDES, C.; CUNHA, P. PROENÇA; DINIS, J. L. O Meso­Cenozóico da margem atlântica portuguesa: Guias de las excursiones geológicas. In: CONGRESSO GEOLÓGICO DE ESPAÑA, 3., 1992.; CONGRESSO LATINOAMERICANO

DE GEOLOGIA, 8., 1992, Espanha. Anais... Espanha: Universidad de Salamanca, p. 115­138, 1992.

PENA DOS REIS, R.; PIMENTEL, N.; GARCIA, A. Curso de Campo na Bacia Lusitânica (Portugal): roteiro. Coimbra, 2007, 154 p.

PENA DOS REIS, R.; PIMENTEL, N.; BUENO, G. Curso de Campo na Bacia Lusitânica (Portugal): roteiro. 3 ed. Coimbra, 2008, 136 p.

RASMUSSEN, E. S.; LOMHOLT, S.; ANDERSEN, C.; VEJBAEK, O. V. Aspects of the structural evolution of the Lusitanian Basin in Portugal and the shelf and slope area offshore Portugal. Tectonophysics, v. 300, n. 1­4, p. 199­225, 1998.

REY, J.; DINIS, J. L.; CALLAPEZ, P.; CUNHA, P. P. Da rotura continental à margem passiva: composição e evolução do Cretácico de Portugal. Cadernos de Geologia de Portugal, Lisboa: INETI, 2006. 75 p.

RIBEIRO, A.; ANTUNES, M. T.; FERREIRA, M. P.; ROCHA, R. B.; SOARES, A. F.; ZBYSZEWSKI, G.; MOITINHO DE ALMEIDA, F.; CARVALHO, D.; MONTEIRO, J. H. Intro duction à la géologie générale du Portugal. Portugal: Serviços Geológicos de Portugal, 1979. 114 p.

RIBEIRO, A.; SILVA, J. B.; CABRAL, J.; DIAS, R.; FONSECA, P.; KULLBERG, M. C.; TERRINHA, P.; KULLBERG, J. C. Tectonics of the Lusitanian Basin. Lisboa, 1996. v. 1. 126 p. Final report, Project MILUPOBAS, 1996.

RIDER, M. The geological interpretation of well logs. 2 ed. Scotland: Rider­French Consulting Ltd, 2000. 280 p.

ROCHA, R. B.; MARQUES, B. L.; KULLBERG, J.; CAETANO, P.; LOPES, C.; SOARES, F.; DUARTE, L. V.; MARQUES, J. F.; GOMES, C. R. The first and second Rifting phases of the Lusitanian Basin: stratigraphy, sequence analysis and sedimentary evolution. Lisboa: CEC, 1996. v. 2. Final Report. Project MILUPOBAS, 1996.

SELLEY, R. C. Ancient Sedimentary Environments. 2 ed. London: Chapman and Hall, 1978. 287p.

SERRRA,O. Diagraphies et Stratigraphie. Im Mem.BRGM, 1972. p. 481­487.

SERRA, O.; ABBOTT, H. The contribution of log-ging data to sedimentology and stratigraphy. In: ANNUAL FALL TECHNOLOGY CONFERENCE, 55., 1980. SPE of AIME, paper SPE 9270, 1980.

SOARES, A. F.; ROCHA, R. B. Algumas reflexões sobre a sedimentação Jurassica na Orla Meso­Cenozoica ocidental de Portugal. Memórias e Notícias, n. 97, p. 133­142, 1984. Publicação do Museu do Laboratório de Mineralogia e Geologia, Universidade de Coimbra.

SOARES, A. F.; ROCHA, R. B.; ELMI, S.; HENRIQUES, M. H.; MOUTERDE, R.; ALMERAS, Y.; RUGET, C.; MARQUES, J.; DUARTE, L. V.; CARAPITO, M. C.; KULLBERG, J. Le sous­bassin nord­lusitanien (Portugal) du Trias au Jurassique moyen: his­toire d’un “rift avorté”. Comptes Rendus de L’ Académie des Sciences, Paris, série 2, v. 317, n. 12, p. 1659­1666, 1993.

SOARES, A. F.; MARQUES, J. F.; SEQUEIRA, A. J. D. Carta Geológica de Portugal. Notícia Explicativa da Folha 19­D, (Coimbra­Lousã). Escala 1:50.000. Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Lisboa, 2007, 71 p.

VEIGA OLIVEIRA, L. C. Biostratigrafia de Nanofásseis e Estratigrafia Química do Pliensbaquiano- Toarciano inferior (Jurássico Inferior) da Região de Peniche, Bacia Lusitânica, Portugal. 2007. 2 v. 237 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 2007.

VERA TORRÉS, J. A. Principios y Métodos. Madrid:Editorial Rueda, 1994, 805 p.

WILSON, R. C. L. A reconnaissance study of Upper Jurassic sediments of the Lusitanian Basin. Ciências da Terra (UNL), Universidade Nova de Lisboa, n. 5, p. 53­85, 1979.

WILSON, R. C. L. Mesozoic development of the Lusitanian Basin, Portugal. Revista Sociedad Geológica España, v. 1, n. 3­4, p. 393­407, 1988.

WILSON, R. C. L.; HISCOTT, R. N.; WILLIS, M. G.; GRADSTEIN, F. M. The Lusitanian Basin of West Central Portugal: Mesozoic and Tertiary Tectonic, Stratigraphic, and Subsidence History. In: TANKARD, A. J.; BALKWILL, H. (Eds.) Extensional tectonics and stratigraphy of the North Atlantic margins. Tulsa: AAPG, 1989. p. 341­361. (AAPG Memoir, 46).

Downloads

Publicado

2011-11-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

CALHÔA, Ana Marisa Gomes de Almeida Santos; FRANÇA, Almério Barros; REIS, Rui Paulo Bento Pena dos. A utilização de electrofáceis na ampliação do conhecimento da estratigrafia do Jurássico Inferior e Médio na Bacia Lusitânica. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1-2, p. 101–130, 2011. Disponível em: https://bgp.petrobras.com.br/bgp/article/view/76. Acesso em: 20 set. 2024.